quarta-feira, 12 de abril de 2017

Pastor vs Pastorização


Muitos pensam em nós como ovelhas sem pastor, ou que não querem ter pastor... mas só somos ovelhas se tivermos Pastor. 
Não pode ser de outra maneira.
Não é o facto de sermos ovelhas que nos faz ter, ou não, pastor. 

É o facto de termos "O Pastor", que faz de nós ovelhas.

Não é uma questão semântica.

E O Pastor, é só um.

Jesus não disse ao apostolo, "Pedro, apascenta a tuas ovelhas", Ele disse "as minhas".
Somo ovelhas dEle. Se Ele não for o nosso Pastor, então não somos ovelhas.

Falando agora de »homens« a quem foi dado do dom de apascentar o rebanho (e não, ser apascentador não é sinónimo de ser pastor, como quem pratica medicina não é sinónimo de ser médico) eles são, em primeiro lugar, também ovelhas.. e quem é o apascentador deles?

Curiosamente, se for um «pastor» a dizer que somos todos iguais, toda a gente chora baba e ranho, pela singeleza do coração do homem de Deus, mas se for eu a dizer a mesmíssima coisa, sou um descabrestado rebelde e sem humildade.

Mas eu pelo menos, consigo pensar em meia dúzia de coisas piores que não querer ter apascentador terreno.

Por exemplo, ter um auto-intitulado pastor, que não passa de um ladrão que acha que a sua palavra vale tanto quanto as escrituras...Muitos o chamam de "pastor", e na opinião deles esse homem é intocável... 
Ou ter um auto-intitulado pastor que governe sobre o povo para seu próprio beneficio e das suas loucuras. Alguns até conduzem outros à morte literal.

É que uma ovelha não querer ser apascentada, só o prejudica a ela, e no máximo à sua casa... se for esse mesmo o caso.
Já um pseudo-pastor pode destruir a vida de dezenas de ovelhas.
E todos os pseudo-pastores, ostentam o titulo de pastor. Então como fazer a diferença entre irmãos a quem foi dado do dom do pastorado e mercenários? Chamamos a todos “pastor”? É isso que os diferencia?

Eu não tenho nada contra apascentadores terrenos de rebanho, (nem poderia ter) e acredito que todos devemos ser apascentadores dos nossos irmãos e ser apascentados por eles, em comunhão e igualdade, mas tenho muita coisa contra a cultura de endeusamento de irmãos com o dom de pastorado. Porque isso na realidade é uma forma de idolatria.
E sou contra também que se fomente a cultura de casta, que é a doutrina dos nicolaítas.

Como disse Karl Barth "O termo «leigo» é um dos piores do vocabulário religioso e deve ser eliminado da conversação cristã". Todos somos sacerdotes segundo a ordem de Melquisedeque, da qual Cristo é o Sumo-Sacerdote.
Logo, o sacerdócio universal de todos os crentes é real, e foi curiosamente das principais doutrinas da reforma protestante, mas que tantos «protestantes» fazem tábua rasa.

Como o rebanho e ovelhas são dEle, não interessa se uma ovelha não quer estar no mesmo aprisco, pode ser simplesmente que não seja desse aprisco, seja doutro. Mas ainda assim, ele pode ser ovelha.

Por fim, só relembrar, que apascentar, é cuidar.... e somos todos chamados a cuidar uns dos outros, com ou sem dom de pastorado.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Comecemos


Esta página surge pela necessidade de desconstruir o conceito de "desigrejado".

Sendo nós Igreja em Deus, por e com Cristo, nunca deixaremos de ser Igreja.

No entanto, o que perseguimos é como ser "Mais Igreja", não mais instituição. Espero que gostem deste novo cantinho, alguns textos do blog antigo irão passar para o novo, e os conteúdos serão actualizados conforme a disponibilidade.

Apesar de não haver duas pessoas que concordem absolutamente em tudo, temos como base uma série de fundamentos, que se encontram em construção, como cada um de nós, e que enumeramos a seguir. 
No entanto, todos são bem-vindos a revisitar esta página, porque irá sendo actualizada à medida do nosso crescimento e entendimento. Esta lista não é algo fechado, mas um ponto de partida para uma discussão alargada sobre a vida com Deus, com Cristo e por Cristo, o qual se revelou de uma vez por todas, mas que vamos assimilando na caminhada da vida e partilha uns aos outros, horizontal e fraternalmente.

Essência: Deus é Amor. Humanamente, não podemos categorizar Deus de outra forma. Ele está tão além da nossa compreensão, da nossa capacidade de o imaginar, de o racionalizar… Por isso, mais vale assumir a futilidade da tentativa de conceber um Deus à nossa imagem e semelhança, e falar aquilo que Ele diz dEle mesmo: Deus é Amor!
E mesmo o Amor que é sua essência, é trabalho de uma vida para o entender em todas suas formas e possibilidades, nos mais diversos contextos e circunstancias; pelo que é perda de tempo tentar pensar e discutir categorias de Deus, que Cristo não revelou com palavras e/ou actos.

Divindade: Jesus, é o eterno Filho de Deus, e é historicamente a exclusiva encarnação do próprio Deus, que se humilhou a si mesmo, na forma humana. Morrendo por nossos pecados, ressuscitou porque nem a morte pôde conter o autor da vida. Ascendeu ao céu, de onde enviou o Espírito Santo, que nos aconselha, consola e guia até que Ele volte. 
Seu Espírito que é Deus nos ensina a entender o que Deus filho revelou com sua Vida, acerca de quem Deus é e deseja que sejamos.

Mandamento:Um mandamento, "Amar". A Deus acima de tudo, ao próximo, e uns aos outros como testemunho do corpo. Deus é Amor e os seus devem amar o Amor acima de todas as coisas, pois amando algo tanto quanto o Amor, perverterá nosso amor e nos impossibilitará de amar. Devemos amar o amor acima de todas as coisas, e só então poderemos verdadeiramente nos amar como ao próximo; assim como ao inimigo. É amando o inimigo, todos os diferentes, todos os que nos antagonizam, que amamos o Amor acima de todas as coisas e portanto amamos de verdade a Deus acima de todas as coisas.

Bíblia: Toda a palavra de Deus é Cristocêntrica e Cruciforme. Divinamente inspirada. Sem excepção! Assim sendo, devemos entender as Escrituras exclusivamente a partir dos evangelhos, que revelam Jesus - o Evangelho de Deus - o qual nos permite ver o que era sombra e o que é realidade; assim como o que era passageiro e o que é eterno.

Simplicidade: Acreditamos em ser igreja de forma simples, isso implica sermos Igreja com os que se cruzam na família, na escola, no trabalho, no prédio, e com aqueles com quem congregamos. Deus é Amor, portanto está tudo simplificado e amando simplificamos todas as complexidades da vida.

Instituições:Entendemos a necessidade gregária do ser humano, pois Deus é gregário, Deus é uma família e comunidade, tendo nos criado à sua imagem para ser família que congrega à mesa com amor. Por isso rejeitamos que congregar sem a simplicidade e igualdade da mesa possa agradar e/ou chegar a Deus. Escolhemos, na simplicidade, não congregar em locais de culto especifico e institucional, pelo formato e pelo que representam. Nada nos move contra quem vive a sua vida cristã em instituições, porque não é a presença nestas que determina se são ou não salvos. Mas cremos e experimentámos que as Escrituras estão certas quando revelam uma Igreja simples, que se reúne em casas, á mesa, em praças, em praias, etc, sem templo de pedra nem seus gerentes.

Reforma: A reforma protestante conquistou alguns passos importantes, mas esqueceu-se de outros. Algumas coisas perniciosas que a reforma protestante não teve a coragem de reformar e manteve do catolicismo são: acabar com o processo de hierarquias iniciado pelo Imperador Constantino, separar a Igreja do estado e, principalmente, de governos corruptos, ou ainda acabar com as elites clericais que se servem do corpo, em vez de o servir, manter templos de pedra ao contrário da Igreja bíblica... Sendo assim, não celebramos a reforma que ocorreu à 500 anos, mas celebramos a reforma que ainda decorre, e em que a desinstitucionalização e o estabelecimento de igualdade entre irmãos, ocorre como um dos passos necessários para uma forma mais correcta e saudável de viver o evangelho.

Sacerdócio: Não há mais classes especiais, quando o véu foi rasgado TODOS têm acesso ao Pai. Por Cristo somos todos Sacerdotes num reino de Irmandade Sacerdotal. Em Cristo, Sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, no sentido espiritual, todos temos dons e capacidades que devem ser colocadas ao serviço do Corpo místico, que é a Igreja, em cooperação e não em competição.
A reforma protestante afirmou o sacerdócio universal de todos santos, mas de forma muito limitada; restringindo essa universalidade meramente à possibilidade de todos santos poderem orar a Deus, terem seu devocional, pedirem e receberem perdão de Deus sem intermediários. No entanto, a reforma protestante manteve os privilégios sacerdotais do clero católico no meio protestante, impedindo que todo crente possa ser sacerdote e ministrar seu dom no espaço-tempo do congregar para culto litúrgico. No meio protestante continua a haver uma minoria escassa, clero, a ministrar o culto a uma maioria leiga que lhes paga para tal, contrariando as directrizes bíblicas para que todo corpo tenha liberdade de funcionar...

Reino: O Reino de Deus já chegou. E é subversivo! Implica não cooperar com os outros reinos deste mundo. O Reino de Deus é a comunidade de Deus, é a cidade sobre a colina a dar e ser luz, é a comunidade daqueles que se amam como Cristo os amou, é a comunidade que projecta uma sociedade onde todos são amados e cuidados. O Reino de Deus é a comunidade dos que se amam e cuidam, ao mesmo tempo que pacificamente, denunciam o que nas diversas sociedades do mundo cria injustiça e consequente falta de paz social e dignidade a todos indivíduos, criados à imagem do Deus que a todos ama radicalmente.